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terça-feira, 8 de maio de 2012

Licença de maternidade, e agora?

"Mulher chorando" - L. Figueiredo
Um Vídeo (clicar) excelente sobre uma temática que tanto dá que falar e pensar quando se tem um filho.
Sabe-se que provoca sentimento de culpa em muitas mães e muitos pediatras, psicólogos, educadores e outros profissionais debatem a melhor fora de ajudar as mães neste momento.


O nascimento de um bebé acarreta toda uma nova definição de normal. O parto é apenas o início de um processo de mudança estrutural na vida de uma mulher. Afinal, é o momento em que nasce não só um filho mas também uma mãe, uma aventura para a qual nunca se está suficientemente preparada. 
O nevoeiro silencioso dos primeiros tempos de maternidade pode, facilmente, transformar-se em angústia. Ao contrário do que se possa pensar, ninguém nasce mãe. Aprende a sê-lo. É o que garante Lília Brito, psicóloga clínica e docente na pós-graduação em Psicologia da Gravidez e da Maternidade, no Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA). “A maternidade organiza-se sempre num acto de relação, nunca é algo isolado e também não é instintivo. O que há é uma maior ou menor sensibilidade para se perceber, empatizar e saber de alguma forma responder às necessidades do bebé”, defende, sublinhando que a aprendizagem é constante porque os bebés não são todos iguais. “Não interessa se já existem filhos ou não, cada um é um caso diferente, uma relação diferente, uma aprendizagem diferente.”


"Maternidade" - M. Fazenda
O que causa angústia é essa estranha e complexa aprendizagem de ser mãe, que ninguém parece assumir. “Hoje vivemos ainda numa fantasia de maternidade idealizada, com muito instinto maternal, onde a mãe recém-nascida sabe sempre o que fazer a todo o momento. A verdade é que não tem de saber, aprende, isso sim, aos poucos e poucos, no desenvolvimento da relação com o seu bebé”, garante Lília Brito, sossegando as mais desconfiadas. “Não será normal uma mãe questionar-se: ainda agora estava com uma barriga tão grande e agora já está um bebé aqui ao lado; o que é isto que eu sinto; serei capaz de cuidá-lo e amá-lo? Estes sentimentos podem tornar-se penosos porque a exigência social é terrível para quem está a viver momentos tão delicados de mudança estrutural na sua vida”, diz a psicóloga.
Segundo um estudo citado por Kate Figes, no livro A Mulher e a Maternidade, os sentimentos de choque, tristeza, alívio, repugnância, espanto, alegria e satisfação são bem mais comuns do que o amor após o parto. Nessa investigação, realizada num hospital-escola em Londres, junto de 120 mães, apurou-se que 40 por cento considerava que a sua primeira reacção emocional ao segurar no filho após o parto era de indiferença.

Afinal, é preciso tempo para a mulher se adaptar à maternidade.
 
Para Rita Ferreira, mãe pela primeira vez em março, existem duas etapas distintas no caminho para a maternidade. “Quando estás grávida toda a gente te apoia e és o centro das atenções, mal o bebé nasce a coisa muda de figura e, para ser sincera, acho que nos primeiros dias se dá muito pouca importância à mãe, ou melhor, poucos cuidados. Exigem praticamente que estejas na melhor forma mal sais da maternidade”, queixa-se. Este é, aliás, outro dos factores que, segundo os especialistas, causam ansiedade na mãe recém-nascida. É suposto o corpo recuperar a sua forma e vitalidade num ápice, como acontece às estrelas de cinema e televisão que enchem as páginas das revistas. Até porque a imagem actual de um parto normal é algo com o mínimo de dor possível, do qual as mulheres saem com um sorriso de felicidade, um bebé nos braços e capacidade para fazer tudo.
"Maternidade" - Mary Cassatt
A psicóloga Lília Brito não poderia estar mais de acordo. “É bom sublinhar que isso da supermulher, supermãe, superprofissional é algo dos livros de quadradinhos, não existe na vida real e que a existir tem o seu preço”, avisa a docente do ISPA, apontando para o conceito de maternidade extensível. “Se há umas décadas tínhamos a chamada família nuclear, onde a mãe ficava com o bebé, hoje não temos. A maternização alargou-se a várias formas de maternidade, das avós às amas, passando pelas creches e infantários”, afirma, defendendo que, “pelas próprias exigências da sociedade, há que repensar este conceito, estendendo-o a redes familiares alargadas e tornando-a partilhada”.



Eu (Tina Aguiar) confesso que deixar a minha filha numa creche aos vinte meses e o meu filho aos cinco meses mexeu comigo, apesar de ser educadora de infância. No primeiro caso estava em casa desempregada e era uma angústia deixá-la lá, sentia que era má mãe, ficava em cuidados, e quando não podia ir eu, pedia pedia ao meu marido para ir buscá-la o mais cedo possível. Acho que não era só preocupação, era também a mania do controlo, admito. Não controlei a invasão da minha barriga e, depois, de todos os minutos da minha vida, mas, pelo menos, a existência da minha filha eu achava que controlava. No caso do meu filho estivemos juntos na mesma instituição mas senti-me revoltadíssima por não fazer com ele o mesmo que fiz com ela, ficarmos ambos em casa até mais tarde.

"Maternidade" - Klimt
Agora estou mais relaxada, percebi que o importante é aproveitar todos os seus momentos e deixar as coisas acontecerem naturalmente. Afinal, a vida é, nas palavras de John Lennon, o que nos acontece enquanto fazemos outros planos. “Aceitar a maternidade significa aceitar a natureza caótica e arbitrária da vida quotidiana. Significa aceitar a mudança orgânica e salutar que os filhos trazem à nossa vida”, escreve Kate Figes.



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